sábado, 18 de fevereiro de 2017

4.1. A FILOSOFIA E O PENSAMENTO CONCEITUAL

A FILOSOFIA E O PENSAMENTO CONCEITUAL

A FILOSOFIA E O PENSAMENTO CONCEITUAL 


A filosofia já foi definida de várias maneiras. A palavra, de origem grega, é composta de Phílos, que designa o ‘amigo, amante’; e Sophía, que significa ‘sabedoria’. O significado de filosofia, portanto, é amor ou amizade pela sabedoria. Se a filosofia é um amor pela sabedoria, isso quer dizer que ela não é “a” sabedoria, mas sim uma relação com o saber, que implica um movimento de construção e de busca da sabedoria. O filósofo Aristóteles definiu o ser humano como um “animal portador da palavra, que pensa”, isto é, um “animal racional”. Segundo ele, “a filosofia é a atividade mais digna de ser escolhida pelos homens”, uma vez que nela o ser humano exercita sua faculdade racional.
É também uma atividade capaz de proporcionar a felicidade, pois vivendo filosoficamente o ser humano está vivendo de acordo com  sua própria natureza. A filosofia é, portanto, um movimento daquele que não sabe em direção a um saber; é uma vontade de conhecer a si mesmo e ao mundo.

Duas perspectivas da filosofia O filósofo contemporâneo Michel Foucault procurou mostrar que há duas formas de compreender a filosofia: 

• como busca da sabedoria, entendendo o conhecimento como algo que vem de fora; 
• como um trabalho de cada um sobre si mesmo, um modo de construir a própria vida.


No primeiro caso, a filosofia é a busca de um saber que está fora de cada um de nós. No segundo, é uma prática de vida, um pensamento sobre nós mesmos, um modo de fazermos com que nossa vida seja melhor. Essa segunda noção é também uma busca, mas não de algo que está fora de nós. É uma busca por nos tornarmos melhores pelas práticas cotidianas que certos filósofos denominam exercícios espirituais.
Um exemplo de exercício espiritual seria o hábito de escrever um diário. Ao relatar os acontecimentos e as sensações do dia a dia, temos oportunidade de refletir sobre eles e, assim, de nos conhecermos melhor. Essas duas visões levam a uma terceira: o pensamento filosófico como uma reflexão interna que questiona todos os conhecimentos vindos de fora. Pensar filosoficamente é, portanto, refletir sobre os mais diversos problemas e situações “partindo do zero”, ou seja, sem aceitar automaticamente os conhecimentos recebidos. 
Na reflexão em busca do conhecimento, a filosofia elabora conceitos. Para começar a compreender o que são conceitos, pense no que significa para você a ideia de democracia. Faça a você mesmo algumas perguntas:

• O que é democracia?
• A que contextos ela se aplica?
• As relações familiares em que vivo são democráticas? E na escola?
• Deve haver um limite para a liberdade democrática?
• Será que a democracia tem alguma relação com a filosofia?
• A ideia de democracia é algo pronto e definitivo ou muda conforme o lugar e a época?

Ao fazer a si mesmo essas perguntas, você está praticando a reflexão filosófica e reunindo elementos que podem ajudá-lo a elaborar um conceito, o conceito de democracia. Nos dicionários e enciclopédias, é possível encontrar muitas definições da palavra democracia. O conceito é algo diferente, é uma elaboração própria, que envolve reflexão e modifica
quem a realiza.
Os conceitos não estão prontos e acabados, mas estão sempre sendo criados e recriados de acordo com as circunstâncias, de acordo com as necessidades, dependendo dos problemas enfrentados a cada momento. Cada filósofo cria seus próprios conceitos ou recria conceitos de outros filósofos. Ao criar ou recriar conceitos, o filósofo está também
agindo sobre si mesmo, criando a si mesmo, construindo sua vida. 
Mas isso não significa que apenas alguns privilegiados possam praticar a filosofia. Segundo o filósofo italiano Antonio Gramsci, “todos os homens são filósofos”, na medida em que todo ser humano, de uma forma mais ou menos intensa e duradoura, pensa sobre os problemas que enfrenta em sua vida. De certo modo, todo ser humano se utiliza de conceitos, ou até mesmo os formula, em alguns momentos de sua vida. Os filósofos, porém, dedicam-se à filosofia de modo mais intenso, fazendo dessa atividade sua profissão e sua vida. Eles problematizam diversas questões, pensam, criam conceitos, escrevem textos e livros.
Alguns desses conceitos atravessam os séculos. Embora tenham sido elaborados em outra época e em um contexto histórico diferente, podem despertar nossa reflexão e ajudar na formulação de nossos próprios conceitos. Pense, por exemplo, no conceito de felicidade. Muitos filósofos já estudaram o assunto em diferentes lugares e épocas e elaboraram os mais variados conceitos de felicidade. Esses conceitos são importantes como referência, mas não são estáticos: mudam conforme o contexto e as motivações de quem está refletindo sobre eles. Nesta obra você vai conhecer diferentes conceitos criados pelos filósofos ao longo do tempo e poder compreender como esses conceitos podem ajudá-lo a pensar sobre sua própria vida.