sábado, 18 de fevereiro de 2017

1. OS SIMPSONS E A FILOSOFIA

OS SIMPSONS E A FILOSOFIA

FONTE: http://www.filosofianaescola.com.br/2012/02/os-simpsons-e-filosofia.html


Os Simpsons e a Filosofia 



O seriado Os Simpsons é um dos mais populares do mundo. Willian Irwin, Mark T. Conard e Aeon J. Skoble organizaram uma coletânea de textos que relacionam a história dos personagens de Springfield com os mais diversos temas estudados pela filosofia. No livro “Os Simpsons e a filosofia” as ideias de Aristóteles, Platão, Kant, Nietzsche, Marx e Heidegger são estudadas a partir de episódios do desenho animado.

Em um dos capítulos do livro a teoria moral (ética) do filósofo alemão Immanuel Kant é apresentada por meio de uma análise de diversos episódios dos Simpsons. Selecionei algumas passagens deste capítulo. Junto aos textos também estão os episódios abordado pelos autores, além de questões de estudo sobre o texto. Para ler os textos e assistir os espisódios basta clicar nos links abaixo:

O mundo moral da família Simpson
Até Bart sabe que isso é errado
Lisa Simpson: moral e felicidade


O mundo moral da família Simpson (estudo dirigido)



Confiram um trecho do livro "Os Simpsons e a filosofia". Nesse texto aspectos da ética de Kant são tratados a partir do personagem Homer Simpson. No final do texto há três questões para estudo e o episódio mencionado.
O que é a bondade moral? Uma característica central do ponto de vista moral, de acordo com Imannuel Kant, é um compromisso com a realização do “dever”. O termo “dever” implica a presença de duas forças contrárias. De um lado temos nossos desejos, sentimentos e interesses espontâneos - incluindo nossos medos e ódios, nossos ciúmes e inseguranças. Do outro lado, há o que alguém acredita que deve fazer e o tipo de pessoa que deve ser. O termo “dever” sugere que essas duas forças vivem em constante conflito; e, consequentemente, fazer o que se deve fazer e tentar ser o que se deve ser pode ser difícil ou doloroso, envolvendo sacrifícios de vários tipos. O indivíduo que se compromete a manter um ponto de vista moral – o modelo moral ideal – é aquele que resolve se subordinar e sacrificar, se necessário, os desejos, sentimentos e interesses pessoais em nome do dever – para fazer a coisa certa ou se tornar o tipo certo de pessoa. Os episódios de Os simpsons costumam destacar o conflito entre desejos, sentimentos e interesses pessoais de um lado, e o senso de dever moral, do outro.

[...] No episódio “Propriedade indesejada”, Marge arruma um emprego de corretora imobiliária. Está cansada de ver seus serviços totalmente altruístas serem ignorados pela família. [...] Marge quer uma carreira em que possa provar seu valor e suas habilidades para si mesma, para família e para a sociedade maior de Springfield. Quando é apresentada aos colegas na firma, vemos que ela está entrando num mundo de competição, no qual um quer cortar a garganta do outro. Um corretor venenosamente mais velho [...] está à beira de um total colapso pessoal. A princípio, Marge não tem consciência desse ambiente, vestindo com entusiasmo e orgulho o imponente casaco vermelho da empresa. O problema é que Marge quer sinceramente ajudar os clientes, e está pronta para sacrificar seus interesses próprios em nome do dever honesto. Confiando em Marge, amigos e vizinhos seguem a opinião dela. Respeitando essa confiança , Marge diz o que ela realmente acha das casas que as pessoas estão interessadas em comprar. Ela é honesta com os clientes, sentindo com eles os laços de amizade nessa comunidade intimamente ligada, e como resultado não faz as vendas que lhe garantiriam sua posição na imobiliária. Ela não consegue “fechar” os negócios.

Marge defende seus métodos ao conversar com o delicado gerente, Lionel Hutz: “Bem, como a gente diz: A casa certa para a pessoa certa!” Lionel diz: “Ouça, deixe-me contar-lhe um segredinho, Marge. A casa certa é aquela que está à venda. A pessoa certa é qualquer pessoa”. “Mas eu só falei a verdade!”, retruca Marge. “Claro que falou”, diz Hutz. Mas há verdades” (ele franze a testa e balança a cabeça negativamente) “e verdades” (agora ele faz uma expressão animada e um sinal positivos com a cabeça). Uma venda poderia ser feita se ela expusesse o produto sob a luz certa: chamar uma casa pequena e apertada, por exemplo, de “aconchegante”; descrever uma velharia caindo aos pedaços como “o sonho de quem gosta de trabalhos manuais”, e assim por diante. Marge não se convence, mas acaba enfrentando a opção: perder o emprego ou omitir um pouco a verdade. No conflito entre o interesse pessoal e o dever moral, vemos que ela é pressionada a escolher o primeiro por causa das estruturas subjacentes da organização social competitiva. Mudando o modo de falar com o cliente, Marge faz uma grande venda, escondendo dos ingênuos Flanders o fato de houve um brutal assassinato na casa que eles estão comprando. Ela tenta encontrar prazer na posse do cheque dos Flanders, sinal de seu sucesso na carreira escolhida, o tributo ao seu valor como pessoa. Mas sente culpada por sentir que cometeu uma traição ao dever. Seu senso de dever acaba triunfando sobre o desejo e interesse pessoal. Ela decide arriscar o sacrifício de tudo por que aspirou, e volta a contar aos clientes a história completa da casa.
QUESTÕES 

1. O texto e o episódio mostram que Marge no final Marge privilegiou a lei moral ou o agir por interesse? Justifique.
2. Em qual momento do episódio Marge privilegiou mais seus interesses particulares do que a lei moral?
3. No ambiente de trabalho de Marge havia espaço e oportunidades para pessoas que agiam moralmente? Justifique.

Até Bart sabe que isso é errado 






Nesse texto aspectos da ética de Kant são abordados a partir do personagem Bart Simpson. No final do texto há três questões para estudo e o episódio da série mencionado.








Bart Simpson tem muito do pai em seu caráter. Ele tem a atitude de não-estou-nem-aí, do garoto que só quer se divertir, e que vive procurando encrenca. Em “A namorada de Bart”, Bart desenvolve uma paixão impulsiva pela filha do reverendo Lovejoy, Jéssica. A princípio, Bart acha que precisa frequentar a escola dominical para conquistar a afeição de Jéssica. Mas ela só fica interessada nele quando reconhece em Bart um possível parceiro no crime.

Esse episódio ilustra as possibilidades da hipocrisia moral quando a moralidade é identificada com a conformidade a um código externo de comportamento. Como filha de um ministro religioso, Jéssica faz o papel de menina “boazinha”. Para garantir seus desejos egoístas, ela apela com hipocrisia para a moralidade. Mas com Bart há limites, uma atitude de “já basta”. Quando Jéssica rouba dinheiro da coleta da igreja, Bart faz o possível para se opor ao furto: “Roubar dinheiro da igreja é muito errado!”, ele lhe diz. “Até eu sei isso”. Quando acusam Bart do furto, ele pergunta a Jéssica por que deveria protegê-la. Ela responde: “Porque ninguém vai acreditar em você, se contar. Lembre-se que eu sou a doce e perfeita filha do ministro, e você é só um delinqüente”.

Por causa de suas costumeiras diabruras, os ocasionais reconhecimentos de Bart do dever podem assinalar certos pontos morais mais efetivamente do que no caso de crianças normalmente bem comportadas.

QUESTÕES 

1. Bart discorda de Jéssica por que ele quer agir de acordo com algum princípio religioso? Justifique sua resposta.
2. Para Kant é possível a qualquer pessoa agir moralmente. O texto mostra que Kant estava errado e que pessoas com um comportamento duvidoso nunca conseguem agir moralmente? Justifique sua resposta.
3. O que o texto chama de hipocrisia moral?

Lisa Simpson: moral e felicidade 





Nesse texto aspectos da ética de Kant são abordados a partir do personagem Lisa Simpson. No final do texto há três questões para estudo e o episódio da série mencionado.







A consciência moral diligente é mais bem retratada, em termos gráficos, no personagem da pequena Lisa Simpson, aluna do segundo ano escolar. Lisa tem um profundo senso de dever moral. A moralidade da menina, porém, não é individualista, institucionalmente orientada, como a de Flanders, confiante na autoridade da Bíblia e da Igreja. A moralidade de Lisa é oriunda de uma reflexão pessoal precoce sobre os grandes temas da vida moral: ser honesto, ajudar aqueles em necessidade, compromisso com a igualdade humana e a justiça. Lisa nos mostra como é difícil, às vezes, viver segundo esses princípios diante dos levianos compromissos convencionais com o status quo. Isso aponta para outra característica central da moralidade, de acordo com Kant. A moralidade é, em essência, determinada internamente. Ela desperta da reflexão pessoal, e não das convenções sociais externas ou de ensinamentos religiosos autoritários. Ela envolve clareza e consistência nos princípios pelos quais uma pessoa viva sua vida.

Em “Lisa a iconoclasta”, Lisa descobre que o lendário e supostamente heróico fundador de Springfield era na verdade um terrível pirata, que tentou matar George Washington. Lisa tira nota vermelha por seu ensaio: “Jebediah Springfield: superfraude”. A professora explica. “Isso parece uma descrição policial: homem branco morto por assassino desconhecido. São mulheres como você que impedem a nós, outras mulheres, de achar um marido”. Lisa está apenas tentando dizer a verdade, da maneira como a descobriu. Não é a verdade disfarçada da profissão de vendedor, mas uma verdade objetiva, histórica e científica, a ser defendida como um valor inerente, quaisquer que sejam as consequências e os sacrifícios. [...] Lisa concentra-se em princípios morais inescapáveis e deixa as outras pessoas incomodadas com os compromissos convencionais. Por isso, ela acaba ficando isolada, e sofre intensamente com esse isolamento. 

[...] O que faz de Lisa mais do que uma criança boazinha é o fato de ela ser extremamente sensível, com um grande desejo de felicidade pessoal. A natureza conflitante do dever moral, com sua tendência a exigir o sacrifício pessoal, é devidamente representada aqui em toda a sua pungência. Ela recebe todo o sofrimento que um compromisso com um princípio pré-determinado pode criar numa criança sensível e precoce. Seu profundo amor pela vida e pela beleza, aliado a um não menos profundo compromisso com a verdade e a bondade, manifesta-se nas frustrações e tristezas que ela expressa nos sons tristes e melancólicos do saxofone, tocando jazz. Kant afirma que a beleza e a arte convertem em uma presença sensível as possibilidades de uma vida moral superior. Quando a vida real parece dar pouca ou nenhuma atenção a tais possibilidades, o doloroso grito da alma de Lisa encontra uma válvula de escape na lamúria do saxofone. No personagem de Lisa, a comédia de Os Simpsons não nos permite esquecer uma profundidade da tragédia.

QUESTÕES 

1. A moralidade de Lisa é oriunda de convenções sociais e ensinamentos religiosos? Justifique sua resposta.
2. Como as outras pessoas ficam diante do agir moral de Lisa?
3. É possível afirmar que Lisa alcança a felicidade por agir moralmente? Justifique sua resposta.