sábado, 18 de fevereiro de 2017

7. A FILOSOFIA E SUAS ORIGENS GREGAS

A FILOSOFIA E SUAS ORIGENS GREGAS

A FILOSOFIA E SUAS ORIGENS GREGAS


Entre os séculos IX a.C. e VIII a.C., os gregos se expandiram para além da península grega, estabelecendo colônias importantes, como Éfeso, Mileto (situadas na Jônia, região sul da Ásia Menor), Eleia e Agrigento (na Sicília e sul da Itália, região conhecida como Magna Grécia). 
Foi em algumas dessas cidades, localizadas nas bordas do mundo grego, que surgiram os primeiros filósofos. Tales de Mileto (Jônia), Pitágoras de Samos (Jônia), Filolau de Crotona (Magna Grécia) e Heráclito de Éfeso (Jônia) são alguns exemplos.

Tales de Mileto (c. 625 a.C.-556 a.C.) é considerado o primeiro filósofo. Nasceu na região da Jônia, hoje Turquia, e era apontado como um dos sete sábios da Grécia antiga. Foi o primeiro a afirmar que há um princípio universal do qual todas as coisas derivam (que os gregos chamavam de arkhé) e que este princípio seria o elemento água. Teve diversos seguidores na chamada Escola Jônica, os quais, embora concordassem com a ideia de arkhé, afirmavam ser ela relacionada a outro elemento que não a água.
Fundador de uma importante escola filosófica na Magna Grécia, com sede na cidade de Crotona, o filósofo e matemático Pitágoras de Samos (c. 570 a.C.-497 a.C.) se tornou muito conhecido pela enunciação de um teorema matemático que recebeu seu nome, o teorema de Pitágoras. Em seu pensamento, defendia que o Universo (em grego, kósmos) era regido por princípios matemáticos, sendo o número o fundamento de todas as coisas.
Filolau de Crotona (c. 470 a.C.-385 a.C.), filósofo e astrônomo que pertenceu à escola pitagórica defendia o número como a arkhé da natureza, bem como uma estrita conduta para a boa vida. No campo da astronomia, foi um dos primeiros a defender que a Terra está em movimento e não se encontra no centro do Universo, que seria ocupado por um “fogo central” sempre do lado oposto ao planeta e, por isso, não possível de ser visto pelos seres
humanos. Em torno desse fogo central giravam a Terra e os demais corpos celestes.
Em Éfeso, o filósofo Heráclito (c. 535 a.C.-475 a.C.) defendia que o princípio de todas as coisas não era o número, mas sim o fogo. Assim como percebemos neste elemento incessantes movimentos e transformações, na natureza também tudo se movimenta e se transforma, baseando-se na harmonia dos contrários (quente e frio, leve e pesado, sólido e líquido, seco e úmido, etc.), organizados pelo logos, isto é, o princípio racional de inteligibilidade, que tudo organiza e ordena para a composição do kósmos.
Essa nova prática de pensamento surgida na periferia do mundo grego migrou para as cidades da península grega, em especial Atenas – cidade dedicada a Palas Atena, deusa da sabedoria –, um solo fértil para seu florescimento. É por isso que o filósofo contemporâneo Gilles Deleuze afirma que “os filósofos são estrangeiros, mas a filosofia é grega”. 
É importante notar que a primeira palavra a surgir foi filósofo, que é aquele que pratica determinado tipo de investigação teórica, e só mais tarde apareceu a palavra filosofia, para designar a atividade deste investigador. Não se sabe ao certo quem inventou a palavra filósofo; alguns afirmam ter sido Pitágoras, outros afirmam ter sido Heráclito.
Segundo a tradição, o primeiro filósofo teria sido um humilde homem grego que se recusava a ser reconhecido como sábio – isto é, que possui um saber –, preferindo chamar-se filósofo, quer dizer, um ‘amigo da sabedoria’, alguém que deseja ser sábio, mas ainda não o é. É uma posição semelhante à do filósofo grego Sócrates, que afirmou no século V a.C.: “Só sei que nada sei”, percebendo e admitindo a própria ignorância.
Mas por que o modo filosófico de pensar, com a recusa de verdades prontas e a elaboração de novos conceitos, surgiu na Grécia? Para entender isso, é importante recuar no tempo e conhecer um pouco a Grécia dos séculos VII a.C. e VI a.C. Assim, ficará mais fácil compreender quem eram e como viviam os gregos daquele tempo.

• A civilização grega antiga construiu uma cultura pluralista. Em sua origem estão três povos (os jônios, os eólios e os dórios) que formaram uma sociedade unida pelo idioma e pelo culto aos deuses, mas que recebia influências de diversas culturas. Essa pluralidade
foi um campo fértil para o desenvolvimento do teatro, da literatura, da arquitetura, da escultura e da filosofia.

• Os gregos eram estimulados a pensar por si mesmos. A Grécia jamais formou um império centralizado. Em vez disso, organizou-se em cidades independentes, chamadas cidades-Estado, cada uma com seu próprio governo e suas próprias leis. A política era um assunto dos cidadãos. 

Entre os povos  da mesma época que formaram impérios, como os egípcios, os persas e os chineses, a situação era bem diferente. Em razão da forte influência religiosa, a produção de saberes era monopólio dos sacerdotes ou de pessoas ligadas a eles, sempre em favor do imperador e visando ao controle social e à permanência no poder.
As explicações eram determinadas pela visão religiosa e não podiam ser contestadas. Até mesmo o saber prático era controlado. A matemática é um exemplo. Entre os egípcios, os sacerdotes desenvolveram um conhecimento matemático destinado a registrar e controlar os estoques de alimentos do templo, bem como a construir pirâmides. Esse conhecimento era considerado segredo religioso, e apenas os sacerdotes poderiam conhecer.
Todo esse controle tendia a impedir que as pessoas pensassem por si mesmas. Na Grécia antiga, diferentemente, estimulava-se a discussão sobre os problemas e os rumos da cidade. Tanto é que foi na cidade-Estado de Atenas que se desenvolveu a forma democrática de governo. É verdade que a sociedade grega era escravagista e que só se consideravam cidadãos os homens maiores de idade, nascidos na cidade e proprietários de terras e de bens. Na Atenas dos séculos V a.C. e IV a.C., esse grupo correspondia no máximo a 10% da população total. Mas isso já era um número muito maior de pessoas dedicando-se à política do que nos impérios antigos.

• Os gregos gostavam de discutir e polemizar. O gosto pelo debate e pela disputa é um traço da cultura grega. Ele vem da própria constituição do povo grego, um povo de guerreiros que muitas vezes teve de se unir para combater os inimigos. Os heróis da mitologia representam esse gosto pela luta e pelo triunfo, bem como as disputas esportivas que se seguiram com a criação dos Jogos Olímpicos. A disputa de ideias fazia parte desse espírito competitivo. Eram comuns, na Grécia antiga, os debates em praça pública. A filosofia é o resultado, portanto, da confluência e da interação de diferentes povos e culturas que encontram na pólis ateniense o terreno propício para o seu desenvolvimento intelectual.