sábado, 18 de fevereiro de 2017

6.1. FILOSOFIA O QUE É ISSO? COMO PENSAMOS?

FILOSOFIA O QUE É ISSO? COMO PENSAMOS?


O PENSAMENTO FILOSÓFICO


Se pararmos para ouvir a canção “Tô”, de Tom Zé, viveremos uma genuína experiência filosófica. A letra da canção nos estimula a pensar,  ao colocar em jogo uma série de situações aparentemente incongruentes: carinhoso para poder ferir; olho fechado para ver melhor; lentamente para não atrasar; desesperado para ter paciência; com alegria para poder chorar. Alguma coisa parece não se encaixar... 
O pensamento filosófico é semelhante, pois acontece quando somos tirados do lugar-comum. É como se, no dia a dia, vivêssemos “no automático”, sem pensar muito naquilo que fazemos, naquilo que acontece a nossa volta. De repente, alguma coisa nos chama a atenção. Algo nos faz parar e pensar. Alguma coisa está estranha. Como na canção de 
Tom Zé, ou como no poema de Carlos Drummond de Andrade: “tinha uma pedra no meio do caminho”. É essa “pedra” que nos faz parar, é ela que nos atrai a atenção. É nesse momento que pensamos. Dizendo de outra maneira, pensamos quando nos deparamos com um problema.
Pensar, nesse sentido filosófico, não é algo comum. É um acontecimento raro e que produz transformações em nossas vidas. Quando pensamos, já não somos mais os mesmos.


PENSAR E TRANSFORMAR O MUNDO...


Foi por meio do exercício do pensamento que o ser humano transformou-se a si mesmo e ao mundo. A primeira cena do filme 2001: uma odisseia no espaço mostra isso de forma bonita. Um grupo de hominídeos vaga pelas savanas africanas disputando poças de água para matar a sede, caçando animais para comer e sendo caçados. Quando a câmera focaliza o rosto de um deles, o que vemos é uma expressão de medo.
Como sentir-se seguro quando não se é o mais forte? Como vencer o medo e enfrentar o mundo, uma natureza inóspita, desconhecida e cheia de perigos? A resposta construída pela humanidade é clara: por meio do conhecimento. O mesmo filme utiliza outra metáfora interessante. Certo dia, um dos hominídeos pega um osso de um animal morto e começa a batê-lo no chão. Percebe que desse modo sua força é maior. O osso que ele encontra se transforma em uma ferramenta, algo que pode ser utilizado para realizar uma tarefa. Na próxima vez que o bando desse hominídeo está disputando uma fonte de água com um grupo rival, ele usa o osso para atacar os inimigos. Sua força é multiplicada pela ferramenta
(que se torna uma arma) e ele vence. Exultante, o hominídeo joga o osso para o alto. Quando o osso, girando, atinge o ápice e começa a cair, transforma-se em uma espaçonave em órbita da Terra. 

A metáfora é clara: enfrentando o problema da sobrevivência em um mundo inóspito, o hominídeo transformou-se em humano quando inventou uma ferramenta, uma arma. A ferramenta desenvolveu-se por séculos e milênios, convertendo-se em um sofisticado aparelho tecnológico. Também o pensamento dispõe de ferramentas – as tecnologias da
inteligência, como as denominou o filósofo francês pierre lévy. Trata-se dos instrumentos que utilizamos para tornar o pensamento mais eficiente. Na história humana, a tecnologia da inteligência que predominou inicialmente foi a oralidade, isto é, a comunicação por meio da palavra falada; em determinado momento criou-se a escrita (que teria um desdobramento importante com a invenção da imprensa); e mais recentemente a informática. Essas tecnologias interferem diretamente no modo como pensamos. A forma de pensar durante uma conversa oral é diferente da que ocorre em uma comunicação escrita, por exemplo. Procurando enfrentar seus problemas, os seres humanos utilizaram as tecnologias da inteligência para elaborar diferentes tipos de conhecimento.
A filosofia é um deles. Em que a filosofia se diferencia dos demais saberes? Se todos são resultado do exercício do pensamento, o que há de específico na filosofia? O que distingue a filosofia são seus instrumentos e aquilo que ela produz: os conceitos.